Iniciativas premiadas pelo príncipe William servem de exemplo para ações ambientais no Paraná

Foto: Thais Espírito Santo/g1

O Paraná pode se beneficiar pelas soluções finalistas do Earthshot Prize 2025, premiação internacional criada pelo príncipe William para reconhecer iniciativas que ajudam a regenerar o planeta.

Entre os projetos estão tecnologias de reflorestamento, programas de proteção florestal e modelos de economia verde com potencial de aplicação no estado.

A cerimônia de premiação aconteceu na quarta-feira (5), no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. Os cinco ganhadores receberam o prêmio de £$ 1 milhão (cerca de R$ 6,5 milhões) para expandir ou replicar seus projetos e reconhecer suas conquistas e seu potencial transformador.

Foi a primeira vez que o prêmio aconteceu na América Latina, um marco para o Brasil, que vem ganhando destaque na agenda climática.

Vencedora na categoria Proteger e Restaurar a Natureza, a Re.green realiza reflorestamento em larga escala e restauração ecológica com o uso de inteligência artificial, drones e satélites.

A iniciativa atua no Pará e na Bahia e tem a meta de restaurar 1 milhão de hectares e capturar 15 milhões de toneladas de CO₂ por ano.

Para Clóvis Borges, diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), no Paraná, a iniciativa poderia ajudar a restaurar áreas de Mata Atlântica e margens de rios degradadas, integrando pequenos produtores em sistemas agroflorestais e projetos de silvicultura com espécies nativas.

“Essa é uma mudança de chave muito curiosa, que coloca a conservação de áreas naturais como algo que gera receita e pode ser positivo em termos de geração de renda”, afirma Borges.

Segundo ele, ações desse tipo podem contribuir para metas estaduais de conservação e competitividade ambiental, ao evitar a conversão de terras para monoculturas e ampliar a biodiversidade local.

Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF)

O programa Fundo Florestas Tropicais para Sempre busca tornar a preservação mais valiosa do que a destruição das florestas tropicais.

A iniciativa prevê um fundo de US$ 125 bilhões, com aportes iniciais de US$ 5 bilhões, para oferecer renda permanente a países que mantiverem políticas de conservação.

“Esse não é um investimento em conservação, é uma premiação para governos que tenham políticas públicas voltadas à proteção de áreas naturais”, explica Borges.

O fundo pode beneficiar indiretamente o Paraná, uma vez que o estado também tem compromisso com a preservação da Mata Atlântica, essencial para o equilíbrio hídrico e climático da região Sul.

A capital da Colômbia foi premiada por suas políticas de redução da poluição urbana. Desde 2018, Bogotá reduziu em 24% a poluição atmosférica com medidas como expansão de ônibus elétricos, criação de ciclovias e arborização de áreas vulneráveis.

No Paraná, 89% da população vive em áreas urbanas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para Carolina Efing, da Rede Curitiba Climática (RECC), as cidades do estado poderiam se inspirar nesse modelo.

“A descarbonização do transporte e o aumento da arborização urbana vão além da sustentabilidade: elas melhoram a qualidade de vida, reduzem doenças respiratórias, ondas de calor e enchentes”, explica Efing.

Ela lembra que o Plano de Ação Climática do Paraná (PAC-PR), lançado em 2023, prevê a descarbonização urbana até 2050, com metas para eliminar lixões, tratar esgoto e adotar energia e transporte limpos.

Matter

A startup britânica Matter foi outra finalista na categoria Construir um Mundo sem Resíduos. A iniciativa criou um filtro para máquinas de lavar roupas capaz de capturar microplásticos antes que cheguem aos rios e oceanos.

Microplásticos são partículas com menos de 5 milímetros de diâmetro, oriundas da degradação de objetos maiores, como sacolas, garrafas e redes de pesca.

Segundo a Matter, as microfibras, liberadas por tecidos sintéticos como poliéster e nylon, são uma das principais fontes de poluição invisível nos mares.

“Esse é um exemplo de prática que deveria virar política pública na indústria. A partir de 2026, todas as máquinas de lavar deveriam ter esse sistema”, defende Borges.

No Paraná, em regiões próximas à cidade de Paranaguá e em áreas de preservação ambiental, como Guaraqueçaba, a presença de microplástico é visível a olho nu, conforme indica pesquisas do Programa de Recuperação da Biodiversidade Marinha (Rebimar).

Nesses locais, a concentração do organismo é de até 23 vezes maior do que nas amostras comuns, mostram os estudos. Segundo Borges, a implantação de filtros, como os desenvolvidos pela Matter, em eletrodomésticos dos paranaenses poderia mitigar esses efeitos.

A Grande Reserva Mata Atlântica, criada em 2018, foi uma das iniciativas brasileiras indicadas ao Earthshot. O projeto abrange 60 municípios no Paraná, São Paulo e Santa Catarina e busca promover o desenvolvimento regional por meio do turismo de natureza.

Os esforços da Reserva buscam atrair o turista para a região ao mesmo tempo, em que fortalecem a sociedade local e prepara o território para a demanda turística de forma sustentável e responsável.

Para isso, a iniciativa oferece treinamento a empreendedores, são mais de 80 empreendedores engajados em práticas sustentáveis e 120 participantes do Programa de Qualificação.

Para Borges, o reconhecimento dessas iniciativas é positivo, mas ainda não representa uma mudança estrutural.

“As iniciativas são bem-vindas, mas precisamos transformá-las em políticas públicas abrangentes. O desafio é fazer com que esses exemplos se tornem o novo padrão”, diz.

Fonte: G1