O homem executado na noite desta quinta-feira (9), em Florianópolis (SC), foi identificado como Alexandre Araújo Brandão, de 39 anos, conhecido no submundo do crime como “Xuruca do Japiim”, um dos líderes da facção Comando Vermelho (CV) no Amazonas. Ele foi morto a tiros enquanto carregava a filha de 1 ano e 8 meses no colo, no bairro Campeche, na região Sul da Capital.
A criança foi atingida pelos disparos e levada em estado grave ao Hospital Infantil Joana de Gusmão.
A ocorrência foi registrada às 22h05, na Rua Laura Duarte Prazeres, no Campeche.
Segundo informações confirmadas pelo Jornal Razão, a PMSC foi acionada após relatos de tiroteio intenso. No local, os militares encontraram Alexandre caído de bruços, já sem vida, com diversas perfurações por arma de fogo (PAF).
Uma moradora relatou ter ouvido cerca de 10 disparos, e viu um homem de roupas escuras e corpo entroncado fugindo com uma arma em mãos. O criminoso entrou em um Fiat Uno vermelho, modelo antigo, sem vidro traseiro, coberto por uma lona preta.
Outra testemunha, cunhada da vítima, informou que Alexandre havia ido buscar a filha, que estava com familiares desde o dia anterior, e que tinha acabado de chamar um carro por aplicativo para voltar ao Porto da Lagoa. Pouco depois, ouviu os tiros e encontrou o cunhado e a criança caídos no chão, cobertos de sangue.
Tentativa de execução em Manaus
Esta não foi a primeira vez que Alexandre Araújo Brandão teve a vida em risco. Em 15 de julho de 2025, ele foi alvejado durante um ataque a tiros na zona Sul de Manaus. Na ocasião, estava dentro de uma Land Rover quando o veículo foi atingido por ao menos 15 disparos.
O automóvel foi encontrado crivado de balas, mas Alexandre já havia sido retirado do local por terceiros. Ele foi socorrido ao Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto, onde sobreviveu ao atentado.
Moradores relataram que os autores fugiram logo após os tiros e que ninguém foi preso. A Polícia Civil do Amazonas investigava o caso, que tinha características de acerto de contas entre facções.
A tentativa de homicídio teria motivado a mudança de Alexandre para Santa Catarina, onde ele mantinha rotina discreta desde o início do ano.
Natural de Manaus (AM), Alexandre alternava períodos entre o Amazonas e Santa Catarina, e segundo sua cunhada, estaria atuando como funcionário da Câmara Municipal de Manaus.
Segundo apurações da Polícia Federal, ele continuava comandando atividades ilícitas à distância, com forte influência sobre o tráfico no Norte do país.
Em janeiro de 2024, ele foi preso na Operação Piramutaba, ação conjunta entre a PF e a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM). Durante a operação, agentes localizaram armas, joias e documentos falsos em um apartamento de luxo no Campeche, em Florianópolis, onde ele foi detido.
O delegado Sávio Pinzon, da PF, o classificou como membro do “Conselho Permanente”, núcleo de comando da facção responsável por autorizar execuções, movimentar recursos e expandir o tráfico entre estados.
A delegada Deborah Barreiros, da Polícia Civil do Amazonas, afirmou que Alexandre respondia a mais de 12 processos por homicídios, tráfico e lavagem de dinheiro, além de ter sido condenado a 15 anos de prisão por assassinato.
Em 2021, ele foi flagrado em Manaus com 14 armas de fogo, durante operação da Rondas Ostensivas Cândido Mariano (Rocam). Chegou a conseguir prisão domiciliar alegando hérnia de disco, mas rompeu a tornozeleira eletrônica e fugiu.
A filha da vítima, C.A.B., de 1 ano e 8 meses, foi atingida por um disparo e levada por vizinhos ao Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis. Até o fechamento da reportagem, não havia atualização sobre seu estado de saúde.
A Polícia Civil de Santa Catarina investiga o caso como homicídio doloso consumado, com indícios claros de execução planejada. A principal linha aponta para acerto de contas entre facções rivais.
Santa Catarina no radar do crime organizado
O caso de Alexandre reforça a preocupação das autoridades com a migração de chefes do crime organizado para o Sul do país, especialmente Santa Catarina, usada por facções como refúgio e base logística para lavagem de dinheiro.
A PMSC e a Polícia Científica seguem em operação na área do Campeche, enquanto a Divisão de Homicídios da Polícia Civil busca identificar os autores do crime.
A morte de “Xuruca do Japiim” marca o fim de uma trajetória violenta, que começou nas prisões de Manaus e terminou em uma rua tranquila de Florianópolis — levando junto uma criança inocente ferida em meio à guerra do tráfico.
Fonte: Jornal Razão
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