Bolsonaro é interrogado no STF sobre suposta trama golpista após eleições

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Após os interrogatórios do ex-comandante da Marinha almirante Almir Garnier, do ex-ministro Anderson Torres e do general Augusto Heleno, na manhã desta terça-feira (10/6), a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) começou a interrogar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nesta tarde. O político está sendo interrogado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Ele é ouvido na ação que investiga uma suposta trama golpista para mantê-lo no poder após o resultado das eleições de 2022, vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).O ex-presidente Bolsonaro começou a ser ouvido por volta das 14h30 negando, para Alexandre de Moraes, que as acusações contra ele sejam verdadeiras. Moraes começou o interrogatório questionando o movimento descrédito às urnas e da reunião ministerial que tratou do tema, em julho de 2022.Bolsonaro disse, entre outros pontos, que trabalhou muito pelo voto impresso na Câmara dos Deputados, quando ainda era parlamentar. E confirma que sempre defendeu.

Ele reforçou sua retórica contra as urnas eletrônicas. Ao se referir a isso, o ex-presidente chegou a citar o atual ministro do STF Flávio Dino, da época que ele disputou as eleições de 2010 e foi derrotado no Maranhão. Ele diz que o próprio Dino colocou em dúvida as urnas eletrônicas. Bolsonaro reclamou de ações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dizendo que foi tolhido em seus direitos durante as eleições de 2022, a partir do momento que não pôde usar fatos e fotos negativos sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e fatos positivos em relação e ele mesmo, Bolsonaro.

Sobre a reunião em julho de 2022, na qual ele criticou a conduta de ministros do STF e do TSE, o próprio Moraes e Luis Roberto Barroso, Bolsonaro pediu desculpas. Ele disse que se tratava de um desabafo, apenas retórica do momento. “Tanto é que era uma reunião para não ser gravada, um desabafo uma retórica que eu usei. Se fosse outros três ocupando teria falado a mesma coisa. Então, me desculpe. Não tinha essa intenção de acusar de qualquer desvio de conduta dos senhores três”.

Minuta golpista

Bolsonaro nega que tenha feito “enxugamento” da minuta golpista, citada, na segunda-feira, no interrogatório do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do próprio ex-presidente. Cid disse que Bolsonaro recebeu a minuta, enxugou e manteve a prisão apenas de Alexandre de Moraes. “Não procede o enxugamento ”, garante Bolsonaro.

Outros pontos

Bolsonaro também citou realizações de seu governo, dando um tom político. Falou sobre obras e sobre a carreira política, iniciada a décadas como vereador no Rio de Janeiro.

O ex-presidente voltou a falar que sempre agiu “dentro das quatro linhas da Constituição” durante seu governo, tema recorrente em seus discursos.

O ex-presidente Jair Bolsonaro em depoimento a Alexandre de Moraes no STF Anderson Torres Bolsonaro - Interrogatório Trama Golpista Bolsonaro é um dos oito réus investigados por supostamente tramarem um golpe de Estado no Brasil. Ele pertence ao núcleo 1, também chamado de núcleo crucial do caso, conforme denúncia feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

Os réus respondem pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado.

O interrogatório é uma das últimas fases da ação penal. A expectativa é de que o julgamento que vai decidir pela condenação ou absolvição do ex-presidente e dos demais réus ocorra no segundo semestre deste ano. Em caso de condenação, as penas passam de 30 anos de prisão.

Interrogatório no STF

Os interrogatórios começaram na segunda (9/6) e vão até sexta-feira (13/6).

Todos os réus precisam estar presentes na Primeira Turma do STF para responderem às perguntas da Procuradoria-Geral da República (PGR) e dos ministros da turma. Mesmo os que já prestaram esclarecimentos, como Mauro Cid e Alexandre Ramagem, devem estar presentes durante o restante das audiências.

Único que não participará presencialmente é o general Walter Souza Braga Netto, que segue preso no Rio de Janeiro e, por isso, prestará depoimento por videoconferência. Tenente-coronel e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid foi o primeiro a ser interrogado, por ser o delator do caso. Nessa segunda-feira (9/6), foram ouvidos o tenente-coronel Mauro Cid e o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem – atualmente deputado federal.

Depoimentos desta terça

Já a sessão desta terça começou às 9h. Os trabalhos foram retomados com o depoimento do ex-comandante da Marinha almirante Almir Garnier Santos, que negou ao ministro Alexandre de Moraes ter visto a minuta de golpe de Estado. Anderson Torres, segundo réu ouvido pela Corte, afirmou que não há nada “que aponte fraude” nas urnas eletrônicas. Ainda na fala, o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal afirmou que ficou “desesperado” com os atos de 8 de Janeiro e que houve uma falha grave na execução do planejamento de segurança para aquele fim de semana. O general Augusto Heleno pediu para exercer o direito de ficar calado diante das perguntas do ministro Alexandre de Moraes. Heleno só começou a falar para responder as perguntas do advogado.

“É importante que o presidente Bolsonaro colocou que ia jogar dentro das quatro linhas (da Constituição), e eu segui isso aí religiosamente durante todo o tempo em que estive na Presidência”, afirmou. “Nunca levei assuntos políticos, tinha de 800 a 1 mil funcionários no GSI. Nunca conversei com eles assuntos políticos.”

Fonte: Metrópoles